"Daquele que não vejo, eu me recordo."

Anônimo – Escola Espanhola

La Dame aux Pensées

©Musée du Louvre/A. Dequier – M. Bard

Na parte das Pinturas Espanholas do Museu do Louvre, uma senhora se recorda de um grande amor. Essa senhora, muito bem vestida, com suas jóias e roupas elegantes, segura um filactério (uma bandeirola de pergaminho) com as seguintes palavras em castelhano antigo: “DE QUOILQUE NON VEDE. YO MY RECORDE.” (“Daquele que não vejo, eu me recordo”). No plano de fundo dourado, vemos inúmeras pequenas flores que se estendem até pela moldura.

Essa pintura foi realizada por um artista anônimo, provavelmente Espanhol, no final do século XV.

Pois bem, na Idade Média quase todos os elementos de uma pintura tinham algum significado, por isso, essas flores que são da espécie Viola, ou mais comumente chamadas de “Amores-Perfeitos”, não foram escolhidas à toa. Essas flores são símbolo das lembranças. Oferecê-las a alguém significa dizer que você nunca vai esquecer-se dele, mesmo quando afastados por um longo tempo. Durante a Idade Média em que Cavalheiros passavam longos períodos longe de casa, essas flores eram uma lembrança para as esposas de que seus amados voltariam um dia. Esse quadro pode ter sido um presente entre noivos que ficariam afastados por um tempo, e no quadro teriam a garantia de que o amor e a felicidade estariam esperando por eles.

Ah, que romântico não é?  

Mas seria isso mesmo? Bem, antes de sairmos correndo até a floricultura para presentear a pessoa amada, vamos dar uma segunda olhada no quadro?

Se observarmos com atenção, veremos que a senhora porta um medalhão incrustado de pedras preciosas. Nesse medalhão temos a figura de Cristo em Majestade (Majestas Domini), essa iconografia vem da visão do livro do Apocalipse da Bíblia. Na Idade Média a crença de que o Julgamento Final chegaria em breve era objeto de grande parte da devoção diária das pessoas. Nesta época a “Parábola das Dez Virgens” descrita por São Mateus, era muito popular. Ela descreve como a Mulher sensata está sempre pronta para a chegada do Juízo Final, e vive uma vida de retidão, bondade e devoção. Por isso, é possível associar o quadro a essa temática do Julgamento Final. Então quando analisamos a figura da senhora em relação ao teor religioso do medalhão, podemos induzir que talvez não seja de um amante que ela se recorda, mas sim Daquele que não se vê. Daquele que só se chega através da fé, ou seja, de Deus.

Anônimo – Escola Espanhola

La Dame aux Pensées

Final do Século XV

Museu do Louvre

Óleo sobre tela – 37cm x 26cm