Henri Matisse e a Alegria de Viver.
Se você acha que a Arte Moderna parece complicada e você não gosta muito
dela, saiba que você não está sozinho. A Arte Moderna sempre foi tema de
controvérsias desde quando começaram as grandes rupturas de estilo por volta do
final do século XIX. Na realidade, o próprio princípio de “moderno” reivindica
essa idéia de controvérsia, pois não existe moderno sem ruptura e contestação
do passado, não é mesmo? Nós vimos isso no texto sobre Edgar Degas e iremos ainda
mais longe com a grande polêmica que os pintores Fauvistas causaram em 1905.
No Salão de Outono de 1905 a sociedade parisiense e os críticos ficaram
chocados com as obras expostas. Um crítico comparou os artistas com animais
selvagens, ou fauves em francês, e logo
esses pintores ficaram conhecidos como os “Fauvistas”. Ou seja, aqueles que
pintavam como bestas selvagens, com cores cruas e foram considerados até como
uma ameaça à harmonia social.
Henri Matisse |
Um desses artistas era o francês Henri Matisse e nessa mesma época ele
trabalhava em seu quadro “A Alegria de Viver”. Nele vemos uma paisagem de um
bosque mítico de cores exuberantes onde as figuras, de formas simplificadas, parecem
descansar.
Henry Matisse
A Alegria de Viver
©2014 Succession H.
Matisse / Artists Rights Society (ARS), New York
© 2015 The Barnes Foundation |
Essa obra é considerada uma das mais revolucionárias da história da arte,
pois ela é a síntese das pesquisas de Matisse sobre cores e formas. Nesse
período Matisse, assim como outros artistas, buscavam “purificar” a Arte da
tradição que havia estagnado a linguagem plástica da Pintura. Eles buscavam
renovar essa linguagem artística evidenciando os próprios meios da Pintura. Existe
uma frase famosa do artista e teórico da arte Maurice Denis, que explica bem
essa idéia: “(...) lembrar-se de que um
quadro- antes de ser um cavalo de batalha, uma mulher nua ou um fato pitoresco
qualquer - é essencialmente uma
superfície plana recoberta de cores dispostas numa certa ordem”. Ou seja, a Pintura dos séculos
passados havia construído uma linguagem plástica que queria imitar o mundo de
maneira realista, com linhas, formas e cores construídas para criar o
ilusionismo de que aquilo que víamos era “real”. Esses artistas do passado se
esforçavam para copiar o mundo, e traduzi-lo em três dimensões na tela do
quadro. Notem como até hoje ficamos atônitos com a qualidade de um pintor em
imitar a realidade. Porém, Matisse e os artistas modernos, queriam ir além
dessa tradição. Matisse nessa obra não busca a imitação da natureza, o que ele
quer é construir uma concepção mental
desse bosque mítico, através somente das linhas e cores.
Vamos ver como ele faz isso?
Vamos primeiro analisar as formas:
Observem como as formas das figuras são simplificadas, Matisse não cria os
efeitos de modelagem e volume dos corpos como na Pintura Clássica.
Notem também
como as figuras estão fora do modelo clássico de proporção, que dita que o
tamanho das figuras deve ir diminuindo conforme a distância, sugerindo assim a
profundidade. Com essa escolha Matisse
deixa evidente a bidimensionalidade da
tela. Notem também como o artista usa as linhas das figuras apenas para
conter as cores. Essas linhas sinuosas dos contornos das figuras, são reiteradas
nas linhas curvas da paisagem, e essa “conversa” de linhas cria a harmonia entre as figuras e a paisagem.
Mas Matisse era mesmo interessado pelas cores. Percebam como aqui as cores são autônomas, ou seja, elas não
são cópia da natureza, notem como ele usa amarelos, vermelhos e laranjas para
as árvores e grama no lugar do verde. A
cor aqui não tem a função de imitar a natureza, Matisse libera as cores da
servidão da imitação da natureza, para deixá-las correrem livres pela tela. Observem
como ele dispõe as cores de forma plana e lisa, em grandes planos de cor pura,
que são articulados de maneira contrastante.
Matisse era interessado pela Teoria da Cores, que na metade do século XIX
foi desenvolvida por alguns cientistas que buscavam determinar como o olho
humano enxerga as cores. Essas pesquisas deram forma ao “Circulo Cromático” que
classifica as cores e as organiza de forma a salientar as cores complementares - essa é uma teoria um pouco
complexa para explicar, mas basicamente ela descreve como nós percebemos mais
intensamente cada cor, quando esta é colocada ao lado de sua cor complementar:
azul e laranja, verde e vermelho, etc. - Matisse dizia que se deve “pensar” a
cor, ele afirmava também que para fazer uma “cor bela”, devemos liberar nossa
imaginação. Aqui ele cria a “cor bela” articulando os planos de cor em
tonalidades quentes e frias, onde cada cor acentua
a sua vizinha criando ritmo.
Como podemos notar, essa construção das cores serve para expressar uma idéia e não para imitar a
natureza. Mas que idéia seria essa? Bom,
o título do quadro nos dá uma sugestão: “A Alegria de Viver”. Observem como no
centro da pintura um grupo de personagens dança, notem como as linhas da paisagem e dos corpos parecem
responder a esta dança.
Matisse buscou
criar uma imagem mítica do mundo, onde não
existe distinção entre os seres humanos e a natureza, numa espécie de paraíso
onde tudo se comunica e se associa, e para isso ele usou os meios plásticos da
pintura: as cores e as formas que se
integram e se harmonizam, de maneira a sugerir, como escreveu o historiador
de arte italiano G. C. Argan: “(...) um
mundo onde as pessoas se movem livres como se feitas de ar e a única lei é a harmonia
universal, o amor.”
Henry Matisse
A Alegria de Viver
1906
A Alegria de Viver
1906
Óleo sobre tela - 1,76 x
2,40 m
The Barnes Fondation –
Philadelphia.
Adorei a postagem, parabéns Carol! Bjs, Mônica
ResponderExcluirO primeiro comentário! Viva! Obrigada, estou aprendendo e estou gostando muito de escrever aqui! Ontem peguei na biblioteca um livro sobre educação no museu, vou fazer um texto em sua homenagem!! Bisou!
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